sábado, 29 de outubro de 2011

Dança-Sistema Universal de dança da Univerdidade Federal do Rio de Janeiro

Assunto: Re: A Dança na UFRJ - Teoria Fundamentos da Dança, o início Qui Maio 22, 2008 8:54 pm
Os compassos são formas de descrever períodos metricamente separados nos quais se distribuem as diferentes combinações de diferentes durações de movimentos (diferentes figuras). No compasso, projetamos uma relação entre um ciclo maior, com seu período de expansão e recolhimento, ordenando por subdivisões regulares desse mesmo ciclo, estabelecendo-se a quantidade de pulsos (unidades cíclicas) para cada fraseado, bem como o valor da duração utilizado como unidade de referência básica para o pulso.


Compassos são, neste sentido [musical], agrupamentos de pulsos diferenciados por um pulso mais forte. Um pulso mais longo que abarca e gera uma dinâmica em grupos de pulsos mais curtos de maneira periódica. Os diferentes compassos são resultado das diferentes combinações entre um pulso básico e o pulso que os agrupa em diversas unidades métricas. Um exemplo clássico é a relação entre o ciclo respiratório e o pulso cardíaco. Nos adultos estes dois ciclos se relacionam, em média, na proporção de 1:4, isto é: para cada ciclo respiratório completo, quatro ‘batidas’ do coração. (ibid).


Em uma fórmula de compasso, o denominador indica em quantas partes um fraseado [65] deve ser dividido para obtermos a duração das unidades cíclicas instituídas nesse fraseado. O numerador define quantas unidades cíclicas o compasso contém.


Com isso temos o elemento cíclico do pulso, com sua contração e expansão, ordenando o fluxo do tempo, se somando e se subdividindo sempre em unidades regulares. Temos, na vida cotidiana, inúmeros exemplos disso: a semana (compasso) com seus dias (pulso), que por sua vez se subdivide em dia e noite (subdivisão binária), horas, minutos, etc. Por outro lado podemos considerar a semana como o pulso do ‘compasso lunar quaternário’ e se observarmos bem veremos quão repleta destas relações nossa vida está. Como base comum de todos estes aspectos, temos o elemento cíclico, que como vimos é o sustentáculo da nossa consciência temporal terrena. (ibid)


No exemplo abaixo estamos perante um compasso de quatro por quatro, ou seja, a unidade cíclica tem duração de 1/4 da semibreve (que é igual a uma semínima) e o compasso tem quatro unidades cíclicas (ou seja: quatro semínimas). Neste caso, uma semibreve iria ocupar todo o compasso.




Os compassos podem ser simples ou compostos; binários, ternários ou quaternários. Em música é muito comum que o primeiro tempo de um compasso seja acentuado para marcar-lhe o início, porém isso não constitui uma regra fixa; essa acentuação poderá ocorrer em outros momentos do compasso. Na dança, essa acentuação une o movimento à dinâmica utilizada na execução de cada duração.

Compasso simples é aquele em que cada pulso corresponde à duração determinada pelo denominador da fórmula de compasso. Por exemplo, no compasso quaternário ou 4/4 temos: || 1 1 1 1 ||, onde cada um destes pulsos (representados quatro vezes pelo número 1) terá a duração de um tempo.

Compasso composto é aquele em que cada pulso é composto por um grupo de ciclos, cuja duração é definida pelo denominador da fórmula de compasso. Por exemplo, no compasso 6/8, o denominador indica uma duração (normalmente utiliza-se a semibreve que é = 4) dividida em 8 partes o que significa que a métrica deste compasso é binária, ou seja, há dois pulsos por compasso (8 dividido por 4 = 2).

Como cada pulso é composto de três figuras (6 dividido por 2), teremos dois pulsos de três ciclos cada: || 3 3 ||. Um outro exemplo: 5/4 || 11 | 111||, que é uma fusão entre o compasso 2/4 (binário) e o ¾ (ternário), mantendo a métrica binária. Para um ampliar o esclarecimento, mais um exemplo:


Tomemos um pulso confortável, por exemplo, o nosso andar. O andar naturalmente nos induz a um compasso binário em função da alternância esquerda-direita das nossas pernas. Comecemos a dividir este pulso com nossas palmas: primeiro em um, com uma palma para cada pé, depois em dois, em três, em quatro, sempre atentando para que as divisões estejam regulares e de igual tamanho entre si. Noto que a divisão em um, dois, quatro e seus múltiplos ocorre de forma bastante regular e precisa. Já a divisão em três, seis e nove, parece pertencer a um outro processo e exige de nós uma outra atitude, já não é tão clara e objetiva, [...]. Para o momento cabe constatar que o pulso tanto pode ser agrupado em unidades maiores, ou soma de pulsos através do compasso, como pode ser subdividido também por pulsos menores na razão de 1:1, 1:2, 1:3, 1:4, 1:5 e assim por diante. (ibid).


O compasso binário é uma célula rítmica formada por dois pulsos, normalmente mantém a estrutura forte – fraco em relação ao ataque dos pulsos.


Seguindo nosso princípio básico da resistência como geradora de consciência, vamos contrapor a este pulso algo que possa ser simultaneamente diverso e integrado com sua natureza. Tomemos outro pulso, porém com duração dobrada em relação ao primeiro e sobrepomos um ao outro, de modo que a marcação do segundo coincida a cada duas marcações do primeiro. Temos assim uma ênfase pela soma das duas concentrações a cada dois pulsos do menor. Isso traz uma respiração cíclica para nosso primeiro pulso vivificando-o. Temos agora o que chamamos de compasso com seu tempo forte e tempo fraco. (ibid).


Um ritmo binário pode ser simples ou composto. Exemplos de binários simples são os compassos 2/2 e 2/4. O binário composto é definido pelo compasso 6/8. Na linguagem musical compasso binário é utilizado em marchas, em algumas composições eruditas e de jazz, além de muitos gêneros populares, tais como o samba, rock, blues, fado e bossa nova. Em sua forma composta, pode ser encontrado nos minuetos e em muitos ritmos latinos.

O compasso ternário corresponde à métrica formada por três pulsos, normalmente, com estrutura forte – fraco – fraco. Também o ternário pode ser simples (3/4, 3/2) ou composto (9/8 ). O principal gênero musical a utilizar o ternário simples é a valsa. A forma composta é usada principalmente em danças medievais, na música erudita e no jazz.

O compasso quaternário corresponde à métrica formada por dois binários no mesmo compasso, sendo que o primeiro tempo é acentuado, o terceiro tem intensidade intermediária e o segundo e quarto tempos são fracos. O principal compasso quaternário é o 4/4.

As polirritmias na dança, correspondem à capacidade de utilizar diferentes células rítmicas em diferentes partes do corpo simultaneamente. É uma execução extremamente refinada que exige uma sintonia e um controle bastante preciso, tanto das partes quanto das durações dos movimentos em questão. Para se chegar à polirritmia, normalmente se inicia a investigação de diferentes andamentos em diferentes partes de um mesmo segmento, posteriormente se passa a diferentes distribuições das durações dentro da mesma parte e, progressivamente, amplia-se a complexidade da seqüência para diferentes células rítmicas em diferentes segmentos. É um estudo que amplia o poder de coordenação corporal e também cria um amplexo de possibilidades criativas. É preciso, também, pontuar que, além da duração propriamente dita, o movimento possui inúmeros outros fatores variantes, assim, por exemplo, podemos pensar, por exemplo, em partes executando simultaneamente diferentes células rítmicas em diferentes modos de execução, ou ainda em diferentes orientações formais em diferentes planos do espaço, ou ainda incluindo-se um família da dança, e daí para o infinito.

Estudamos ainda, no parâmetro tempo os gêneros musicais que trazem para a percepção do movimento diferentes formas estruturais, enriquecendo o cabedal de possibilidades sonoras e plásticas, ampliando a capacidade de inferir diferentes estilos.

O Gênero musical pode ser identificado como grupo das características musicológicas, sobre as quais se forma uma identidade. Essas características englobam muitos elementos tais como: tipo de escala, modos, estilos, estéticas, linguagens, códigos, etc. Como em toda classificação artificial, dividir a música em gêneros é uma tentativa de enquadrar cada composição de acordo com critérios objetivos que não são sempre fáceis de definir. A divisão em gêneros também é contestada assim como as definições de música ou dança, porque cada composição ou execução pode se enquadrar em mais de um gênero ou estilo, ou simplesmente ser tão complexa que não caiba em nenhuma categoria pré-estabelecida. Outra forma de encarar os gêneros é considerá-los como parte de um conjunto mais abrangente de manifestações culturais, onde os gêneros são comumente determinados pela tradição e por suas apresentações e não só pela música de fato.

Pode-se destacar, à força do artifício, uma das divisões mais freqüentes; a que divide a música em três grandes grupos: erudita, popular e folclórica. É possível, ainda, através de configurações formais e culturais destacar a música em estilos tais como o jazz, o samba, a rumba, o rock, o blues, a polka, dentre inúmeros outros.

Em geral é possível estabelecer, com certo grau cambiante de delineamento, o gênero de cada peça musical, entretanto, como a música – assim como o gesto – não é um fenômeno estanque, cada músico é constantemente influenciado por outros gêneros. Isso faz com que subgêneros e fusões sejam criados a cada dia. Por isso devemos considerar a classificação musical como um método útil para o estudo rítmico, mas sempre insuficiente para conter cada forma específica de produção. Os estilos musicais ao entrar em contato entre si produzem novos estilos e as culturas se misturam para produzir gêneros transnacionais. Além disso, é preciso perceber que os diversos gêneros musicais têm estruturações diferentes e apresentam planos característicos em relação aos elementos que instauram as configurações rítmicas.


Naturalmente a infinita variedade de manifestações musicais nos mostra que estes elementos nem sempre se encontram no mesmo plano de importância dentro de uma obra. Temos música com ritmo, mas sem pulso - é o caso do canto gregoriano e outras manifestações de tempo não medido, como o Alap indiano. A vivência do longo e do curto está lá, mas não subordinada a uma unidade regular de tempo. O tempo do texto, o sentido da frase e o arco respiratório nos apontam para uma vivência tênue de unidades temporais, que chegam somente a se caracterizar como um embrião do elemento compasso. Justamente pela ausência de um pulso encarnado, vivenciamos este tipo de música como elevado, cósmico ou contemplativo. Outras manifestações nos mostram um pulso bem estabelecido e um ritmo vivo, mas a ausência de compassos, ou uma métrica tão irregular que a ‘função compasso’, como ordenadora de pulsos, deixa de existir enquanto tal. Podemos encontrar exemplos deste tipo, na música indiana, em peças da idade média e renascença [...]. Aqui encontramos normalmente uma rítmica complexa e extremamente vivaz, onde tudo flui com leveza e agilidade. (ibid).


Também no parâmetro tempo, estuda-se a atitude corporal em movimento, como imersa e também produtora de uma dimensão sonora, inaugurando-se uma imagética de relações entre o som, o ruído e o silêncio.


Um dos aspectos mais sutis do meio ambiente é o elemento sonoro. Ele não é visível, não tem cheiro, não ocupa espaço, mas está a nossa volta 24 horas por dia. Vivemos imersos em som e simplesmente não temos como evitá-lo, uma vez que as vibrações acústicas que permeiam o espaço tocam todo o nosso corpo. De fato, todo o corpo é um grande órgão receptor sonoro e o ouvido, propriamente dito, é o ponto focal do processo de audição. Neste sentido a afirmação de que podemos facilmente fechar os olhos, mas não os ouvidos torna-se ainda mais contundente. Devemos também entender o elemento sonoro como uma manifestação de pura transmissão de energia que pode carregar um sentido. Sabemos que, por exemplo, uma explosão, libera luz, calor, movimento e som. Ou seja, o processo vibratório que corre o ar a partir da detonação, é conseqüência da liberação de energia contida no explosivo. Esta vibração em quanto tal é puro movimento de moléculas. Ao encontrar um órgão sensório capaz de interpretá-la, ela produz na alma do observador uma sensação sonora e comunica uma mensagem, colocando o observador em contato íntimo com a essência motivadora do fenômeno. (ibid).



Estas relações com as imagens sonoras se estabelecem em relação ao próprio corpo – percussão corporal, sons onomatopaicos, uso de textos falados ou cantados, dentre outros –; em relação ao som produzido pelo corpo de outros dançarinos; em relação ao som presente no ambiente; ou ainda, produzido pelo contato do corpo com este ambiente; em relação aos sons produzidos por objetos em movimento e também em composições que apresentem diferentes combinações e variações desses aspectos.

Todas as relações de estudo e investigação acerca de todos os parâmetros, aqui descritas, levaram em consideração o conjunto de informações contidas nas apostilas da TFD, entretanto, todos estes tópicos têm também um esgarçamento de seus conteúdos baseados em nossa apreensão da experiência ao trabalhar diretamente com o escopo da Teoria. Não significam a forma correta ou unívoca,apenas a nossa interpretação colocada em curso epistemológico durante o trajeto desta dissertação. No mais, esperamos realmente que estas considerações sejam assim vistas: como considerações abertas à todo tipo de transformação e movimento.

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Notas de rodapé:

[61] Os termos tradicionais usados para definir o andamento da música (allegro, adagio, presto, vivace, largo, etc.) dizem respeito não somente à velocidade do pulso, mas ao caráter do tempo musical e da obra em si. Isto nos remete, novamente, ao caminho interno do pulso e à qualidade com que fluímos através dele. Podemos compreender melhor estas sutilezas, se observarmos diferentes maestros regerem. O bom maestro torna a sua vivência interna (do pulso) visível no seu gesto e passa ao músico não só uma ‘velocidade’, mas também uma maneira de fluir.

[62] Notação musical é o nome genérico de qualquer sistema de escrita utilizado para representar graficamente uma peça musical, permitindo a um intérprete que a execute da maneira desejada pelo compositor ou arranjador. O sistema de notação mais utilizado atualmente é o sistema gráfico ocidental que utiliza símbolos grafados sobre uma pauta de 5 linhas. Diversos outros sistemas de notação existem e muitos deles também são usados na música moderna

[63] Quando há mais de uma colcheia na seqüência, elas são agrupadas para facilitar a leitura. O agrupamento é feito mantendo a figura e sua haste e substituindo a bandeirola por uma linha de união entre as hastes:

[64] Quando há mais de uma semicolcheia na seqüência, elas são agrupadas para facilitar a leitura. O agrupamento é feito mantendo a figura e sua haste e substituindo as bandeirolas por duas linhas de união entre as hastes:

[65] Na notação musical ocidental da atualidade a semibreve é a maior duração possível e por isso todas as durações são tomadas em referência a ela.


Fabiana Amaral
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Assunto: Re: A Dança na UFRJ - Teoria Fundamentos da Dança, o início Qui Maio 22, 2008 9:03 pm
A formatação dos textos ficou levemente alterada pela passagem de Word para html. Assim, as citações diretas aparecem em itálico e sem modificação do tamanho da fonte (ia dar muito trabalho reproduzir td exatamente igual ). Ainda há muitos outros tópicos importantes que podem ser altamente úteis em trabalhos, como o que fala sobre progressões e o que fala sobre lições. Mas transcrevi aqui só o básico para se entender a estrutura do curso. Quem quiser saber mais, pode contatar diretamente a autora da dissertação, Maria Alice (malicemotta@gmail.com), ou entrar em contato comigo mesmo.

A referência bibliográfica é "MOTTA, Maria Alice. Teoria Fundamentos da Dança: uma abordagem epistemológica à luz da Teoria das Estranhezas. Dissertação de Mestrado. Niterói: UFF, 2006."

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